O que liderança tem a ver com tartarugas?
A questão é a seguinte: Como uma tartaruga foi parar em cima da árvore?
R – Porque alguém a colocou lá, afinal, tartaruga não tem competência para subir em árvores.
Considerando a resposta acima, já dá para imaginar o que vamos discutir. Vamos falar um pouco sobre o que não fazer no exercício da liderança. Peço permissão a vocês para usar um pouco do lúdico neste texto e passear pelo mundo animal em alguns momentos.
O problema de uma tartaruga estar em cima da árvore é que ela não tem a menor ideia do que fazer depois que está lá! Ela nem sabe como chegou, aliás, sabe que foi colocada lá, mas agora, danou-se. Como vai buscar comida? Como vai saciar sua sede? Como suas pernas curtas conseguirão se equilibrar em galhos mais finos? E uma das cruciais questões: como dará conta de sua cria, no alto de uma árvore?
Agora, antes de responder a estas questões, voltemos à outra: por que colocamos a tartaruga em cima da árvore? Aí, a porca torce o rabo e as coisas se complicam!
Por vezes, um dos motivos de se colocar a tartaruga na árvore é a insegurança de quem tomou a decisão. Talvez a necessidade de controle seja tanta, que ter uma frondosa águia cuidando da árvore assuste quem não possui o talento de tão preciosa ave. Então, se coloco uma tartaruga, mantenho o controle do “meu pedaço”.
Em outros casos, gostamos muito das nossas tartarugas. São nossos melhores colegas, fazem o operacional de maneira brilhante, são confiáveis e até gente boa mesmo. Mas, liderança não é feita apenas de competência operacional e carinho pessoal. É bem mais que isso. A cada subida de galho, o operacional vai perdendo espaço para que o estratégico, o comercial, a influência, assumam os rumos das ações diárias do líder. Isso requer um perfil específico, aprendizado e investimento do líder em desenvolver seu liderado, mas ele precisa reconhecer que a pessoa está pronta para a mudança.
Estava assistindo ao desenho Kung Fu Panda e já que estamos no reino da bicharada, a frase dita pelo ratinho que é o mestre é bastante assertiva na nossa conversa. Em determinado momento, ele diz ao Panda: “Eu não posso obrigar uma árvore a dar flores quando me convém nem dar frutos antes da hora”. E prossegue: “Mas, posso guiar, treinar e acreditar. Só preciso acreditar.”
Se assistiram ao desenho, deverão recordar que o urso se revelou um grande talento, apesar de inicialmente desacreditado, mas, teve que passar por árduo treinamento e possuía, no seu interior, as competências necessárias para assumir sua missão.
Os riscos de se colocar uma tartaruga no alto da árvore são enormes para a floresta. Os outros animais podem se sentir inseguros, desprotegidos e injustiçados! Lá se foi a felicidade de produzir diariamente e cuidar da sua toca da melhor forma possível, afinal, quando um grande predador chegar (fusões, cisões, baixos resultados financeiros, dificuldades técnicas, negociações sindicais, dentre outros), eles sabem que estão desamparados.
E vão embora! Olha nosso capital intelectual indo bater em outras portas, em outras florestas.
Portanto, se você é líder, por mais que goste das suas tartarugas, se me permitem a sugestão, não as coloquem em cima de árvores. Irão complicar todo reino animal! E se você, meu amigo, minha amiga, é uma tartaruga no assunto liderança, não insista sem o devido preparo, além de poder complicar a vida de outras pessoas e da empresa, não há, em liderança, o passo caranguejo. Se você não der certo, perderá tudo que de maneira digna conquistou, por não estar preparado. 100% prontos, nós nunca estaremos em nada nesta vida, mas não dá para fazer como criança mimada, bater o pé e dizer que quer porque quer. Vá à luta, qualifique-se! Aí, em condições de bater asas, você vai voar. Ou não! Você vai organizar toda a vida das tartarugas, naquilo que sabe fazer melhor e que mais gosta, aproveitando todos os seus talentos.
Preciso fazer uma importante consideração. Todos nós somos tartaruga em alguma coisa, por isso o autoconhecimento é essencial. Entre querer a promoção e poder ter a promoção, passamos pelo caminho do aprendizado, da confiabilidade, da entrega de resultados sólidos, consistentes e acima de tudo, da capacidade de construir estes resultados ao lado de outras pessoas, de inspirá-las a tal. Não se trata de satisfazer caprichos pessoais. Não há espaço aqui para o “gogó”, para uma prática que não condiz com o discurso.
Precisamos lembrar que deixamos marcas nas pessoas que cruzam nossos caminhos na condição de líderes e marcas que irão atingir todas as pessoas que cruzarem os caminhos dos nossos liderados.
Portanto, já que ludicamente hoje utilizamos o reino animal, nada melhor que finalizar com “cada macaco no seu galho”.
Uma semana especial a todos vocês e felizes realizações no habitat de cada um. Na nossa floresta, no nosso jardim, na nossa horta, no nosso lar, nas nossas vidas!
Fabíola Matos