Quando comecei a escrever e entendi que faria isso com mais frequência, inicialmente tomei a decisão de não escrever sobre minha atuação profissional. Gostaria que o universo das letras, tivesse outro propósito, outro fim. Queria que fosse o meu momento de observar a vida de maneira geral, de falar do cotidiano, do trivial, do belo, do triste, do que compõe a esfera do humano de maneira mais despretensiosa.
Mas, mudei de ideia. Motivada por inúmeras atrocidades presenciadas no mundo corporativo, não consegui ficar calada. Lembrei de uma frase do Martin Luther King:
“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem
dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
Pensei em quando iniciei minha vida profissional e quando, escolhendo educação, fantasiava que podia “mudar o mundo”. Bom, como vocês podem imaginar, amadureci o suficiente para entender que só posso fazer a minha parte e por isso, cá estamos.
Diariamente, jovens líderes ainda são colocados sob minha responsabilidade, ou mesmo empresários maduros que escolhem nossa experiência para apoiar seus projetos empresariais. Neste contexto, minha maior preocupação não é exatamente o que eu faço, mas o que eu farei ou como os irei inspirar para cuidar dos outros! Confuso, não é? Nem tanto, afinal, dentre outras coisas, o líder é aquele ser que deixa marcas, inspira pessoas, influencia, cria e muda realidades, mas só consegue isso, por meio dos outros. Portanto, temos “muitos” outros para dar conta.
A abrangência da minha atuação me possibilita um aprendizado constante porque todos estes profissionais que passam por nós, trazem suas inquietações, dúvidas, pedidos de ajuda e orientações e muitas vezes compartilham os rumos que suas vidas profissionais têm tomado. Inspirada por suas histórias é que venho aqui falar sobre o tema da insegurança na liderança.
A abordagem de hoje, ou minha recomendação, se me permitem, é a seguinte: tenham muito, mas muito medo de líderes inseguros. Aliás, tenham verdadeiro pavor e, por favor, rapidamente atuem. Se vocês forem os liderados, procurem alternativas e ajuda, seja nas áreas de ouvidoria, RH, pares, apoio e externo e, se for o caso, até outro lugar para trabalhar.
Agora, se você for um destes líderes inseguros, só tem dois caminhos, na minha humilde opinião: reconhecer essa fragilidade, procurar ajudar e começar a mudar ou em nome das almas que estão sob sua responsabilidade, peça para sair.
Tenho a compreensão que o exercício pleno da liderança é o que efetivamente garante que resultados sejam atingidos. Tão simples quanto. A grande questão é, aliás, as três grandes questões, em minha opinião, são as seguintes: Como você quer este resultado? A que custo? E por quanto tempo?
Estas três perguntas na verdade, são bem abrangentes, seria ingenuidade da minha parte reduzir sua importância, mas um dos pontos cruciais a que elas remetem, é a perenidade da empresa. Portanto, cada líder precisa ter a compreensão do seu negócio, de como conseguirá atingir os seus resultados e como fará sua empresa crescer, gerar riqueza e valor para todas as partes envolvidas e, em especial, para seus colaboradores, como deixá-los com a sensação de satisfação com a sua parcela de contribuição.
Aí, o que acontece se nesta caminhada nos deparamos com os líderes inseguros? Normalmente, eles não fazem a menor ideia do que fazer, não foram preparados ou não se prepararam, não acumularam aprendizado suficiente com suas experiências, possuem valores éticos questionáveis, são motivados exclusivamente por poder, status ou grana ou a junção de tudo isso.
O enorme problema dos líderes inseguros é que eles, normalmente, são arrogantes, afinal, o ser humano acuado ataca e o grande produto da insegurança destes líderes é a mediocridade. Porque o líder inseguro, assim como todos nós pobres mortais com outras tantas limitações, não consegue escapar à sua consciência. Ao dormir, mesmo que ele tenha passado o dia se “pavoneando” na empresa, afirmando que é perfeito, pleno, que “quem manda aqui sou eu”, em qualquer momento reflexivo, ele sabe, lá no fundo, que não dá conta.
Como eles vivem com o constante medo de serem substituídos, de perderem seus “cargos”, “títulos” e dinheiro, afastam do seu caminho tudo que seria imprescindível para o sucesso do negócio. Dá para acreditar? Mas, é exatamente isso que acontece! E no nível da mediocridade, lá se vão, “coisinhas” talvez não tão importantes para eles como, a imagem da empresa, os Clientes, muito dinheiro, e sem sombra de dúvida, o capital intelectual, ou seja, os colaboradores talentosos que fariam que com que a tríade acima fosse atingida: Clientes, imagem (perenidade) e lucro.
Recentemente, um dos casos que foi trazido ao meu conhecimento, foi a total ingerência de uma reestruturação interna. O processo foi tão caótico, desrespeitoso e injusto que até candidatos postaram reclamações do processo seletivo no Reclame Aqui! Olhem onde fomos parar! Culpa de quem? Aliás, não gosto desta palavra, ela funciona como uma âncora e não nos faz avançar. Vamos tratar de maneira construtiva: responsabilidade de quem? Aliás de novo, não vamos procurar culpados, vamos encontrar soluções. Como resolver? Dentre outras coisas, recomendo uma revisão urgente no nível de preparação dos líderes que atuam nas organizações.
Todos nós temos limitações. Verdade incontestável. Mas, do mesmo jeito que não se pode contratar um padeiro com alergia a farinha de trigo, um cirurgião com medo e nojo de sangue ou um educador que não acredite verdadeiramente no papel da formação, não acredito que podemos conceber líderes inseguros.
Como cada um de nós, que atua como líder, tem cuidado das suas fragilidades? E se a pauta é insegurança, como você tem lidado com isso? Pela sobrevivência das nossas organizações e pelo impacto que causamos nos outros, precisamos cuidar disso e responder ao Martin: meu amigo, “tamo junto”.