cropped-logo-arttha.png

Liderança: Sou Líder! E Agora?

Em algum momento nós já falamos sobre os riscos de pessoas não qualificadas ocuparem cargos de liderança, mas hoje, quero propor outra reflexão, que é algo que ainda vejo com alguma frequência: a pouca disponibilidade de cada líder, novo ou que atua há bastante tempo, em buscar qualificação constante e melhoria de sua performance.

Parece novamente básico e óbvio falar disso, mas faço este exercício com as equipes que lidero há muitos anos e o resultado é sempre…reflexivo. E devo dizer, que ao conversar com pares e amigos sobre o tema, nos deparamos com as mesmas questões.

A velocidade nas organizações é tão alta, que inevitavelmente, você encontrará pessoas que foram promovidas por sua experiência técnica, bons comportamentos, fidelidade à empresa, mas que não necessariamente estavam preparadas para o exercício da liderança. Algumas empresas investem e oferecem qualificações específicas, cuidam do desenvolvimento do líder e o apoiam nesta fase de transição.

O problema é que algumas pessoas ficam restritas as ofertas da empresa. Se esta organização não tem a cultura de investir em educação continuada, o que é, no mínimo, um equívoco, é neste momento que me cabe perguntar: se você está nesta situação, tem feito alguma coisa para cuidar da sua carreira, do seu desenvolvimento como líder ou tem encontrado justificativas para não…fazer nada?

Se sua fala é algo como: “Ah, mas agora eu sou líder, eu estou no cargo, eu mando, eu resolvo, eu, eu, eu…”, não preciso de desenvolvimento. Bom, o que acredito que você pode afirmar com absoluta segurança é:

“Vou complicar minha equipe!” Sim, tão simples quanto.

Não há possibilidade de crescimento, de evolução, sem estudo e sem conhecimento. Grande parte das pessoas nas Organizações deve conhecer uma sigla muito usada nos treinamentos, inclusive de líderes: CHA – Conhecimento + Habilidade + Atitude. Essa é a base do conceito de competência. Ter apenas habilidade não resolve o seu problema. Você precisa do conhecimento e da atitude.

Aí, começa um movimento interessante. Antes, todo motivado e fazendo tudo para conseguir a promoção, você se entregava a tudo e prometia dar conta de qualquer desafio. Agora, as novas atribuições não lhe dão mais tempo para nada. Suas responsabilidades aumentaram, você agora vive o lindo e saboroso “papel sanduíche”, equilibrar as necessidades da empresa, do Cliente e do seu time, então, vamos no estilo Zeca Pagodinho, deixando a vida levar, porque não se tem tempo para mais nada. O início do fim!

Não quero parecer gerencialmente apocalíptica, mas quando penso que tantos dependem de nós, como líderes, não posso diminuir a importância de nos qualificarmos para cuidar destas pessoas. Não pode ser fonte de sofrimento, precisa ser fonte de aprendizado e de prazer. E isso é possível.

Vale observar os primeiros sinais que se apresentam, que são os nossos resultados. Eles não aparecem como deveriam, as metas ficam longe do combinado, o clima na equipe fica comprometido, as pessoas começam a ir embora. O impacto é brutal no processo, nas pessoas, na execução da estratégia.

Então, nós nos cercamos de desculpas para não realizar, mas aos líderes, lamentavelmente, preciso dar uma má notícia: você não tem tempo nem espaço para se fazer de vítima! Outros, muitos outros, dependem de você.

Ter um excelente currículo, falar outros idiomas, ter especializações e mais certificações, sem que haja uma profunda reflexão sobre nossas competências corporativas, não significará o desempenho exemplar da liderança.

E afinal, o que é ter um excelente currículo? Estamos falando de ter o diploma ou o conhecimento, o aprendizado? Este papel emoldurado compensa, por exemplo, falta de habilidade no relacionamento interpessoal, total ausência de trabalho em equipe, ou o mais agravante: trabalhar exclusivamente pela necessidade do dinheiro e não pelo amor ao que se realiza?

Quero voltar neste ponto em outro momento, quando for abordar a questão do poder e do status na liderança, mas, se concordamos que não podemos abrir mão da nossa qualificação, então vejamos o rol de desculpas que costumamos arranjar e algumas breves dicas para sairmos delas e não atrapalharmos nossa evolução. Vou usar uma linguagem mais coloquial a partir deste momento, propositada e provocativamente.

Objeção: Não tive uma família que me apoiasse.

Resposta: Pois é, você e grande parte da humanidade. Agora, já que cresceu, consegue comer sozinho, se veste só, sabe andar e falar, certo? Então, adivinha?! Você pode dar conta de você. Para ajudar, exercite o perdão à sua família, ele é uma ferramenta poderosa.

Desculpa: Não tenho grana para fazer faculdade.

Sugestão: Já pensou nas escolas públicas? Um curso de menor duração, um tecnólogo. E os cursos à distância? Efetivamente, o que você já fez ou tentou? O que priorizou? Avaliou a possibilidade dos recursos públicos (financiamentos disponíveis)? Reclamar e não atuar não vai resolver a situação.

Lamento: Não frequentei boas escolas.

Resposta: Novamente, você e maior parte da população. Essa é a realidade do país em que vivemos. Não dá mais para viver no lamento. Você gasta R$ 25,00 por mês de cerveja? Cigarro? Festa com amigos? Aposto que gasta mais. Faça um favor a você, meu/minha caro(a) Líder: compre e leia um livro por mês. Existem excelentes livros por este preço. Comece devagar, mas comece. 12 livros ao ano já é muita coisa. Não tem nem os R$ 25,00? Que tal pedir livros emprestado? Existem pessoas que podem ajudar. Não quer pedir emprestado? Temos a internet, se talvez pudermos parar de curtir tanta coisa que não agrega nas redes sociais e dedicar parte deste tempo a leitura de artigos interessantes, os resultados seriam bem diferentes? Não quer ler na internet? Então…

Sugestão final se você não quiser fazer nada: Seja generoso(a), tenha consideração e salve sua equipe! Deixe-a! Ela não merece alguém que não está comprometido com o próprio desenvolvimento, porque simplesmente, você não será capaz de ajudá-los.

Talvez toda qualificação, estudos, investimentos, não te levem onde você desejava exatamente, mas com certeza, te tiram da linha da mediocridade. E isso já tem um valor inestimável!

Bons investimentos em você! Posso lhe assegurar que você é merecedor(a), todos nós que batalhamos, somos. E seu bônus será ter deixado um legado de aprendizado com todos aqueles que tiveram a felicidade de tê-lo (a) como líder.

Fabíola Matos