Sobre Viagens

Todas as vezes que eu estou nos céus em um avião entro em uma viagem existencial.

Vou ali, sentada na minha janelinha, ouvindo música…mas, me adiantei. Deixa eu contar primeiro como tudo começa. Tenho um ritual há muito estabelecido.

Primeiro tenho que falar com minha mãe. Antes de qq coisa, só sinto paz quando me despeço dela e ouço seu: “Deus lhe acompanhe!”. Talvez ela não faça a menor ideia disso, mas já cheguei a ficar tensa porque não falei com ela e já imaginei que o voo teria alguma coisa e teria sido culpa de não ter cumprido a parte 1 do ritual!

Não, não tenho medo de voar. Já tive. Por um período muito difícil, quando sofri de uma dolorosa depressão e síndrome do pânico, por um ano, entrar em um avião era algo aterrorizante e olha que viajava muito. Mas, como as nuvens que agora admiro: passou.

Voltando aos rituais. Depois de falar com D. Nati, aviso ao Filhote que tô indo. Aqui é a minha vez de abençoá-lo. Talvez na minha cabeça esteja resolvendo a questão que se alguma coisa acontecer, as bençãos foram deixadas.

Aí, quando o avião começa a correr na pista lembro de uma brincadeira: “corre, corre, corre”. Era minha fala para meu filho quando era pequeno e não queria que ele tivesse medo de voar…rsrs.

Coisas de mãe pedagoga.

Ops, voltando. Aí, durante a corrida do avião, mentalmente recito um dos meus mantras: “Deus está aqui, aleluia! Tão certo como o ar que eu respiro, tão certo como o amanhã que se levanta, tão certo quanto eu te falo e podes me ouvir.”
Repito 3X.
Por que? Não faço a menor ideia!

Começa então o momento musical. Coloco a playlist que venha na mente e que combine com meu estado de espírito.

Agora, enquanto escrevo para vocês, estou na clássica MPB, com Vinicius, Zizi Possi, Tom Zé, Chico e por aí vai.

Então, a mágica acontece e a janela toma conta da minha alma. Só assim a viagem realmente começa. Eu fico fascinada com a paisagem que muda o tempo todo! Ela me inebria, me hipnotiza, me transporta a tantas dimensões.

Vejo céu cinza e logo azul. Vejo chuva e sol radiante. Vejo nuvens em formatos inimagináveis.
Até já vi uma lua cheia gigante que me fez gritar e quase matar do coração o moço do meu lado!

Já perdi a conta de quantas viagens fiz ao longo dos meus 52 anos! E de todos os sentimentos que tomaram conta de mim. Um ciclo destas viagens rendeu um livro. Já me curei de amores perdidos, já fiz planos para novas viagens, já conheci pessoas incríveis, já fui apoio e consolo para pessoas com medo, mas também já fui consolada e amparada.
Já paquerei, fui paquerada e até conheci namorado viajando.
Já tomei bronca de uma senhora que me proibiu de contar minha idade para qualquer homem!
Já dei muitas risadas, vi uns tantos barracos, esbarrei com gente famosa, senti nostalgias avassaladoras, saudades intensas e fiz planos grandiosos!
Já tive reencontros inesperados, ciclos terminados e questões resolvidas.
Já fiquei ansiosa para chegar no lugar dos meus sonhos; já fiquei mais ansiosa ainda por voltar para minha casa e meus Amores.

Mas porque estou escrevendo isso para vocês?
Não faço a menor ideia! Apenas deixei os dedos deslizarem no bloco de notas do celular.
Gente! Qual foi a viagem desta vez?
A ideia era produzir o artigo que nos levasse a alguma reflexão da nossa vida corporativa, mas me perdi na minha viagem.

Ou talvez não!
Talvez tudo que tenha escrito acima te permita um insight e uma relação com seu momento de vida carreira. Vou deixar por conta da sua criatividade, tá?

Talvez a partilha seja também porque ao reler o penúltimo parágrafo me dei conta de que todas as vezes que estou nas alturas, a essência da vida se apodera de mim e uma constatação óbvia se apresenta: a vida é uma grande, mágica, indescritível e incompreensível viagem.

Nada sabemos na verdade sobre ela e o que fazer com isso? Acredito que só nos reste, desfrutar, aprender, avançar, permitir-se e tornar a vida dos(as) nossos(as) companheiros(as) nesta jornada a mais significativa possível.

Vixe…Alcione me desperta dessa viagem cantando aqui no meu ouvido “minha estranha loucura”…

Que a estranha loucura desta minha escrita te relembre o valor da nossa principal viagem que é viver!

E, como dizemos na Bahia, Axé!