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Confiança Não Substitui Competência

Hoje nós iniciaremos, com este texto, um antigo projeto que estava aqui na gaveta: escrever um livro sobre as dores, dilemas e dificuldades do processo de Recrutamento e Seleção. Mas, não queremos ter um título no nosso livro e na nossa série que nos convoque ao tenso, ao dramático, mas sim, ao aprimoramento.

Acreditamos fortemente que toda dificuldade que enfrentamos é uma excelente oportunidade de aprendizado e, seguramente, nos levará a patamares melhores de conhecimento e posicionamento, desde que permitamos que isso aconteça, então vamos às Pérolas do Recrutamento e Seleção, por Arttha Gestão&RH, representada neste momento, pelo ser humano que vos escreve, Fabíola Matos.

Para começar, quero já trazer uma questão fundamental: quando você escolhe pessoas para trabalhar na sua equipe, você contrata ou promove por confiança ou por competência?

Tenho plena consciência que muitos diriam: “por confiança, claro! Como vou trabalhar com alguém em quem não confio?”

Neste momento, quero lhe deixar uma amorosa provocação. No nosso entendimento, confiança não substitui competência. Naturalmente você não deveria estabelecer relações saudáveis de qualquer natureza, sejam profissionais ou pessoais com quem não confia, porém, no mundo corporativo, trazer alguém que não esteja devidamente qualificado só porque você conhece ou confia, coloca em risco a vida da sua empresa e os seus resultados.

Vamos falar um pouco mais sobre isso. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 90% das empresas no Brasil possuem perfil familiar. Com isso, elas chegam a representar cerca de 65% do PIB e são responsáveis por empregar 75% dos trabalhadores no país. Agora vamos imaginar que você precise fazer contratações ou promoções e faça parte da estatística acima, ou seja, seja um líder que trabalha em uma empresa familiar ou mesmo que não seja familiar, resolva preencher essa vaga contratando um parente, um amigo, um amigo de um amigo, uma indicação do chefe ou alguém para ser “seus olhos e seus ouvidos” na empresa. Se você não conduzir corretamente, corre o sério risco de ter muitos problemas, dentre eles:

  • Impacto no clima organizacional;
  • Perda de credibilidade;
  • Baixa produtividade;
  • Insatisfação e perda de clientes;
  • Comprometimento da qualidade dos produtos ou serviços prestados;
  • Alto nível de estresse para você!

Ou seja, o que deveria ser a solução dos seus problemas, se torna mais um entrave e com grande probabilidade de piorar ainda mais sua vida corporativa.

Quero compartilhar com vocês duas situações que vivi sobre este tema. Uma que foi ousada e bem-sucedida e outra que constituiu um grande equívoco da minha parte.

Quando morava em São Paulo e ocupava uma posição executiva, minha líder me entregou um currículo e me disse que precisava contratar a profissional em questão. Naquele momento, eu tinha umas 15 vagas porque estava reestruturando toda a área de atendimento da empresa e enfrentávamos sérios problemas com o cliente.

Para que vocês possam tangibilizar isso, nossa “carinha” no Reclame Aqui era roxa (com muito orgulho, meu time deu um show de trabalho e dedicação e quando saí da empresa, já éramos verdinhos). Enfim, não cheguei a analisar o currículo e respondi que ela ficasse tranquila, eu incluiria a profissional no processo. Ela não gostou da resposta, se dirigiu a mim e disse que eu precisava contratar. Bom, a essa altura eu já não estava tão confortável, e falei sobre a criticidade do momento e que eu não contrataria uma pessoa não qualificada para uma área tão sensível.

A resposta foi: “nem que seja para arquivar pastas você vai contratá-la porque quem mandou foi o fulano”, (que era o Presidente da empresa).

Respirei fundo, disse que iria entender melhor o perfil e retornaria para ela. Toquei o processo e como era previsto pelas qualificações apresentadas, a profissional não foi aprovada.

Pedi uma reunião com ela e o presidente para tratar o assunto. Ela me respondeu que não poderia participar e que eu falasse direto com o Presidente.

Ao explicar para ele o desempenho da candidata, informei que minha decisão como responsável pela área era a não contratação pelos riscos, mas que se ele fizesse questão, por favor, formalizasse que me eximia de qualquer responsabilidade. Ousado, né? E, para minha surpresa, a resposta dele foi:

“Fabíola, mas que história é essa? Eu não mandei você contratar ninguém. Nunca iria interferir desta forma na sua gestão.”  

Uuuu! Que saia justa. Para não comprometer a diretora, informei que eu deveria ter me equivocado porque havia entendido que era uma demanda dele. O meu “presida”, que admiro muito, era esperto, entendeu minha situação, agradeceu a transparência e ratificou que desde que eu conduzisse com seriedade os processos, não deveria acatar nunca pedidos desta natureza. Não é à toa que ele foi e é muito bem-sucedido como empresário.

E o outro case…sabe aquele ditado, caso de ferreiro, espeto de pau? Pois é…no auge de uma crise de demandas fruto de uma reestruturação interna, contratei um profissional que havia trabalhado comigo no passado e em quem confiava muito. Mas, cometi o erro de não aprofundar minha análise sobre o momento atual da pessoa, suas competências para o tamanho do nosso desafio, o seu conhecimento da minha área de atuação (que era muito raso) e com isso não percebi, por exemplo, sua deficiência técnica e a sua falta de senso de dono.

Enfim, todos os problemas que citei acima eu enfrentei, quase perdemos clientes fidelizados e tivemos um impacto brutal no clima. Por outro lado, com meu time, essa experiência nos uniu e nos fortaleceu. Entendemos que éramos capazes de superar aquele momento, redefinimos rotinas, repactuamos nossas metas e compromissos e retomamos o espírito leve e produtivo que sempre tivemos antes deste evento e que sempre foi percebido por nossos Clientes. Saímos muito mais fortes e melhores!

Então, como evitar essa armadilha? Como é que se resolve?

  • Primeiro, respire! Decisões por impulso em assuntos dessa natureza pedem por sabedoria e
  • A “pessoa de confiança” pode participar tranquilamente do processo, mas, as expectativas devem ser esclarecidas desde Ela receberá o mesmo e justo tratamento concedido aos demais.
  • Aposte na transparência da comunicação e dos Estabeleça etapas organizadas, cheque tudo que tiver que ser verificado, trabalhe de maneira mais racional possível para eliminar a subjetividade.
  • Se você não tem uma área estruturada de gestão de pessoas, contrate uma empresa especializada que poderá lhe apoiar e conduzir o processo de forma a lhe proporcionar absoluta tranquilidade, isenção e segurança na condução das avaliações.
  • E por fim, avalie se vale a pena a relação que você mantém com esta pessoa se as coisas derem errado no

Finalizando, ratificamos nossa amorosa provocação para você hoje: confiança é fundamental, mas apenas ela, não é suficiente para suprir a ausência das competências necessárias para o exercício pleno da atividade profissional e para dar conta dos desafios da posição.

Fique com meu cordial abraço e minha confiança de que você tomará as melhores decisões para as suas pessoas, sua equipe, sua empresa.

Fabíola Matos